terça-feira, 10 de novembro de 2015

in-usual







Me borda um sorriso manso nas costas e disposta, me pede mais com os olhos ávidos e a boca temperada.

 No sim em vacilo do não, como cada grão de dúvida em volúpia, chaminasse… Como se tolo, toda doçura do mar precipita-se de arroio, em pranto leve sob a derme ao que carece pressa do coração e calma nas mãos.

E mesmo se não for aquela que um dia a disse, sementes amarelas e estrelices, jamins e afins; trepida como se mais não fosse medida, e incisa, precisa choca lágrimas do que vem no mais normal de nós... como disse um poeta maior.

No contratempo nossas cinzas se misturam, maturam e do lirismo partido nasce crescido outra flor, sem nome, só verbo, sem paetê, mais que clichê.. um buquê. Ponto de partida, Início do fim.

sábado, 29 de agosto de 2015

Fevereiro

Escuta só, isto é muito sério.  Anda, escuta que isto é sério. O mundo está tremendamente esquisito. Há dez anos atrás o Leo me disse que existe uma rachadura em tudo, e que é assim que a luz entra. Não sei se entendi. Você percebe alguma coisa da mistura entre falhas e iluminação? Aliás, me diga, você percebe alguma coisa de carpintaria? Você sabe por que foi que meteram um boi naquele estábulo em vez de um pequeno rinoceronte? Deve ter tido alguma coisa a ver com geografia ou com os infelizmente insolucionáveis mistérios  que só podem vir no misticismo asiático. Um boi é um bicho tão  inexplicável. Ainda bem. O amor é um animal tão mutante, com tantas divisões possíveis. Lembra daqueles instrumentos que usávamos na boca quando éramos pequenininhos? Lembra da queda deles no chão? Então, acho que o amor quando aparece é em tudo semelhante  a forma física do mercúrio no mundo. Quando o vidro do termômetro se quebra o movimento químico se espalha e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas. O mercúrio se multiplicando... Acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor.  Ah é, eu gosto de você. A luz entrou torta por nós adentro, mas olha, eu gosto de você. A luz do verão passado quebrou o vidro da melancolia e agora ela fica se expandindo pelas ruas todas. Desde aquilo o outro lado do sol, a testa tremendo agora. Hoje ainda faz bastante frio. As cinzas ainda não aterraram sobre as cabeças disfarçadas. Tem gente batucando suor e cerveja pelas ruas da nossa cidade sul. Na cidade norte, há ondas de sete metros tentando acertar o terceiro olho dos rapazinhos disfarçados de caubói. O mestre ainda não veio decretar o começo da abstenção e, olha, a luz ainda está conosco. Sim, o mundo está absurdamente esquisito. Já ninguém confia nas imposições dos perfeitos. A esta hora na Terra é metade carnaval, metade conspiração, metade medo, metade fé, metade folia, metade desespero. E provavelmente a esta hora uma metade do mundo está dançando e outra metade dormindo. Há ainda outra metade limpando as armas, outra limpando o pó das flores. Mas por causa do que me ensinou o místico eu acredito que agora exista alguém profundamente acordado. Alguém que esteja vivendo no intervalo tênue entre o sono e a agilidade. Supondo que ele saiba perfeitamente que este começo de século será nosso batismo de voo para a persistência no amor. João molhou a testa de Manoel, os gritos das ruas molham as testas de nossos corações. De que lado você está eu não me importo. De que garfo você come, de que copo você bebe, que posto 7 você escolhe, qual é seu orixá, seu partido, sua altura, de qual das suas cicatrizes você cuida, que pássaro você prefere, quem é seu pai, qual é seu samba, pinot noir ou chardonnay, que protetor você usa, qual é sua pele, seu perfume, qual político. quantos amores você sonha em que Fernando, que Ofélia,  que cinema, que bandeira, em que cabelo você mora, qual dos túneis de Copacabana? Reze para seus santos quando atravessar. É, é impossível viver no país de Deus e seu tesouro (?) barato. Mas atravessar o gramado de Deus de bicicleta, isso não é impossível não. Escuta, isto é sério.  Andamos (?) juntos, distraidamente. As árvores crescem conosco, nossa pele se estende, nosso entendimento teso também. O século cresce conosco. O amor pelas ventas da cara do mundo, também. Quanto ao um pra um entre nós dois, isso logo se vê. Não sei nada sobre a paixão, suspeito que você também não. Mas começo a entender que o compasso da festa  vai mudando a passos largos, dois pra lá e dois pra cá. Portanto, escuta, isto é muito sério. Isto é uma proposta aos trinta anos. Agora que o mercúrio assumiu sua posição certa, vem comigo achar o meu trono mágico entre a folhagem e no caminho até lá,  vem dançar comigo,  vem. https://www.youtube.com/watch?t=35&v=VasLnEWnAxY Matilde Campilho

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Ode aos mendigos


São antropólogos de raiz, observadores da desumanidade, guerreiros, filósofos do fundo do poço, profundos pesquisadores da ciência do Safo. Vítimas do engano alheio, pontuais companheiros do nascente, amigos da lua e dos animais. Camaleões camuflados na hipocrisia, metropolitanos invisíveis, curadores da arte que ninguém quer expor. São fotógrafos da verdade sem máscara, esculturas de lama cobertas de jornais, notícias tristes de si, que nem ao menos sabem ler. Tocadores de pandeiro, ex-pedreiros, ex-prostitutas, ex-presidiários, ex-advogados de Deus. São eles os verdadeiros patriotas de um país sem ordem, que progride para o seu chão. São fiéis da calçada da igreja, sobreviventes do amanhecer urbano e voraz. Uma lasca de bolacha, um trapo de lençol: suas mansões imaginárias, jardins de suas crias catarrentas, banquetes de matar uma fome sem fim. São loucos poetas alucinados, presidentes da república, técnicos de futebol, perigosos pistoleiros, cangaceiros do sertão. Tristes cobertos pelo frio da alma, cortados pela navalha da desesperança. São velhos, crianças sem idade, ladrões de um pedaço de dignidade, de um sobejo de copo, de um pedaço de pão. Atores de sucesso no palco do mundo, da platéia mais imunda chamada de Nós. Somos nós os verdadeiros aleijados, coitados, sujos e sem futuro. Somos nós os cegos da praça, os pais da desgraça, os verdadeiros vilões. São eles – o bom espelho – para nos enxergarmos e tentarmos levantar nossa moral vadia, com suas lições de vida, de morte e de sorte. Somos nós os verdadeiros pobres coitados, sempre em busca de um abrigo seguro, fugitivos da chuva, fugitivos do medo, fugitivos de nós mesmos. Somos nós os roteiristas, dramaturgos, criadores de cenas para o mendigo atuar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

lá e cá




Onde vai parar esse amor que só posso escrever..
Que só vivemos em fantasia a esguia de moral, bons costumes, e a pretensão de não machucar, de se olhar só na campo da retórica e deixar histórica a necessidade de ser o que se é.
Onde estamos se não no mundo que vagamos ás margens, num céu raso de pequenas certezas, assumindo clarezas de tanto mar.

Onde está o amor se não nos olhos, no bugalhos de se querer? Onde estás se não, no outro?
Onde estamos se não… lá e cá.