domingo, 23 de janeiro de 2011

Tudo parecia de acordo. Tudo certo feito casamento de papel passado e passado esquecido. Uma ilusão de que ao por um pedaço de metal no dedo e ritualizar uma comunhão, tudo se encaixaria de acordo com os anos e conselhos alheios, como segue na imaginação pré-concebida das massas e como se esconde entre o jargão da infidelidade. Um conforto que evita confrontos se escondendo por de trás do corriqueiro, por trás das máscaras e personagens medíocres de um conto, pré-supostamente, previsível...


Cansada de esperar que o assunto surja, entre o calor escaldante e alguns tragos, ela observa atentamente seus passos.. sem esperar que seja diferente.


-Você é feliz Cailo? è isso que você considera "estar junto"?

- Do que é que você está falando?

- Falo de nós, da vida.. de todos aquele momentos inocentes que prometiam o incumprível!

-Éramos inocentes sim! mas verdadeiros.. e ..

-Verdade!!? Verdade de quem? e isso, você chama do que?

-Segurança talvez..
*ascende um cigarro e olha pela janela despretenciosamente.

-Eu também tenho dificuldades de me enxergar sem nós, meu amor.
*senta na cama e começa a lacrimejar.
-Mas as coisas esfriaram, perderam o magnetismo..

-É fácil só enxergar as coisas ruins, as faltas, os vacilos.. mas e os momentos que seguraram isso até agora Miriana?

-Era um amor de cinema.. como aqueles que entre aventuras se roubava um beijo, um gracejo..
*um sorriso triste no canto da boca de lembranças bem vividas.
-Esses momentos nunca morreram, só deixaram de acontecer com aquele ar espontâneo e adolescente que costumava acontecer.

-Que merda..
*as mãos cruzadas atrás da cabeça, tremulas.

-Vamos parar de brigar, vai.. deixar pra lá..
*acariciando seus cabelos.

-Não.. você está certa.. não é justo que continuemos com isso, não é justo com aqueles jovens idealistas, prontos para conquistar o mundo que éramos a alguns anos. Você é linda Mi, mulher de fibra, encantadora.. pode ir muito longe, conquistar outros horizontes.
*olhando fixamente em seus olhos.

-Você.. pensei que seria mais fácil.

-Você acha que não é difícil pra mim também? empurrar com a barriga nunca foi do meu feitio e e nem do seu, e não pretendo começar agora.
*segura seu rosto com firmeza.

-Mas nunca fomos assim, sempre nos entediamos fácil das coisas, nossas almas sempre precisaram de algo a mais! em que ponto tudo isso descarrilou..? Aliás, por que durou tanto?

-Em que ponto..?

-Isso já não importa, ?

-Vamos manter pelo menos o respeito que conquistamos, o que sobrou da nossa inocência e paixão pela vida.
*segurando as lágrimas.

-É isso, então? Cada um volta para o seu casamento, sua mentira, seus trabalhos medíocres?

-E o quanto real é isso? o quanto?

-Isso simplesmente é, assim como toda a vida na terra, assim como as decisões que tomamos, assim como cada gota que cai do céu em dia de trovoada..
*já serena, olhando para o nada em sua frente.

-Apenas provações.. o amor transcende mesmo, não é?

-Gosto de acreditar que sim..



Cailo sai de mãos dadas com Miriana, e logo os trastes de água começam a descer. Dão um longo abraço e se olham durante minutos intermináveis.. dão alguns passos, se viram um ao outro como que conectados por vontade, e congelados em uma pose de admiração, são eternizados em um flash da natureza, se entregando á terra húmida e aos pequenos gestos de nós dois. Bem ali, onde os trastes nos fizeram parar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O vazio na chuva

Foto by Eduardo Duccigne -


A água ganha forma

O tempo grita sua natureza

Estronda no espaço

Ecoa no vazio


Entre as gotas

Claridade prismática

Entre o caos linear

A eternidade passageira


Que mata coisas belas

Que vivifica o cenário

Medo e admiração

Respeito por ser


Carrega consigo

De um novo ar

Penteia o vento

Umidece os pontos


Faz volume ás nossas lágrimas

Continuidade ao ciclo

Traz extinto interiores

Beleza a quem desfrutar


..e como veio.. vai..