domingo, 9 de dezembro de 2012





Ás 9:00 no terminal era onde tinham marcado..
ele de metrô, ela de ônibus;
ela de cílios roxos cabelo solto, ele de óculos e moletom;
ambos amanhecidos à insônia, cultivado em pensamentos e tremores.
Eram conhecidos por um final de semana, eram de mundos icógnitos, paralelos, coincidentes.

No local, muita gente como era de se esperar, e o ar matutino metropolitano que pairava entre as passadas de saltos, rodinhas e viajantes com olhares curiosos. Houve pontualidade, mas um café se fez necessário; a visão turva de alguns tragos no decorrer da madrugada e a sensação de que não acordou, lhe preocupava: Já fazia um ano da última vez que se viram, mesmo descobrindo alguns de seus pedaços, tinha o pressentimento de que re-viveria aquela, um caso único e suicida. Lhe prometera 24h, era tudo que podia e devia devido á conexão que tinham, e a premissa de que esse tempo seria suficiente para mostrar o que 12 turbulentos meses reservaram à esse encontro.
Esperaram. Em plataformas diferentes, diferentes pensamentos, insegurança, receio, o pior da neurose moderna:

" Será que ele me esqueceu?
Será que o ônibus atrasou?
Deve estar chegando.. mas cadê?
Será que ela se perdeu? Mas se eu sair daqui.."

Um caminhar despretensioso os despertou, cruzando a multidão e olhares, luzes e aromas; e num corredor se entreolharam, sorriram, e com breves explicações na trajetória, um abraço. Quente, com pretensão de durar mais, mas não.. a inquietude não permitira. Pulam a parte chata de se colocarem em dia, e deixaram as palavras no automático e apenas se observando: os gestos, a direção dos olhos em cada reação, os lábios e o perfume, e a estação chegou. Carrega-lhe a mala e descem até seu apartamento deixando transbordar  ainda mais as vontades de estar mais perto, e foi o que aconteceu depois do primeiro suspiro no sofá, após uma meia dúzia de ensaios em suas cabeças. E encaixe perfeito, deslizou e a ebulição era clara. tudo com apresso em não ter pressa, e cada momento era um quadro aquarela, nanquim em água. E tudo de menor ser, tornava cósmico, o carinho em sua barba mau feita, seus seios contra o peito, sua mão áspera pelos quadris, suavemente. E, até como um susto, tentando prever o fatídico fim, a saudade se antecipava, um espasmo da consciência lógica querendo somar os espaços que ainda restavam e os que nunca haveriam de existir. Era contra a natureza como muitas coisas na sociedade civilizada, e mais do que nunca não podiam, não tinham como negar tal encontro. Entrega era um suporte mutuo onde podiam misturar suas tintas, sua aquietação, seu gozo, dando vida à uma orgânicidade agridoce desconhecida.
"O tempo urge", pensava, já fumando um cigarro e num impulso de sair pela noite, nada  de mais, apenas um ar fresco. Estava frio mas ela não exita e sorri de olhos coloridos, inclinadamente à quase dizer "onde você quiser". Tudo estava silencioso como podia, se respiravam.. muitos cenários e a vontade única de entrar um no outro, de ser outro pedaço e receber parte, sendo outro.

Como suas próprias naturezas exigiram, o corte foi seco.
Encararam, sorriram, e um beijo no rosto; embotados de declarações e sonhos em lágrimas,
recebem o impacto tardio, desvelam-se à sustos risonhos,
podendo se re-identificar, e lembrar, que odeiam despedidas.