Tudo parecia de acordo. Tudo certo feito casamento de papel passado e passado esquecido. Uma ilusão de que ao por um pedaço de metal no dedo e ritualizar uma comunhão, tudo se encaixaria de acordo com os anos e conselhos alheios, como segue na imaginação pré-concebida das massas e como se esconde entre o jargão da infidelidade. Um conforto que evita confrontos se escondendo por de trás do corriqueiro, por trás das máscaras e personagens medíocres de um conto, pré-supostamente, previsível...
Cansada de esperar que o assunto surja, entre o calor escaldante e alguns tragos, ela observa atentamente seus passos.. sem esperar que seja diferente.
-Você é feliz Cailo? è isso que você considera "estar junto"?
- Do que é que você está falando?
- Falo de nós, da vida.. de todos aquele momentos inocentes que prometiam o incumprível!
-Éramos inocentes sim! mas verdadeiros.. e ..
-Verdade!!? Verdade de quem? e isso, você chama do que?
-Segurança talvez..
*ascende um cigarro e olha pela janela despretenciosamente.
-Eu também tenho dificuldades de me enxergar sem nós, meu amor.
*senta na cama e começa a lacrimejar.
-Mas as coisas esfriaram, perderam o magnetismo..
-É fácil só enxergar as coisas ruins, as faltas, os vacilos.. mas e os momentos que seguraram isso até agora Miriana?
-Era um amor de cinema.. como aqueles que entre aventuras se roubava um beijo, um gracejo..
*um sorriso triste no canto da boca de lembranças bem vividas.
-Esses momentos nunca morreram, só deixaram de acontecer com aquele ar espontâneo e adolescente que costumava acontecer.
-Que merda..
*as mãos cruzadas atrás da cabeça, tremulas.
-Vamos parar de brigar, vai.. deixar pra lá..
*acariciando seus cabelos.
-Não.. você está certa.. não é justo que continuemos com isso, não é justo com aqueles jovens idealistas, prontos para conquistar o mundo que éramos a alguns anos. Você é linda Mi, mulher de fibra, encantadora.. pode ir muito longe, conquistar outros horizontes.
*olhando fixamente em seus olhos.
-Você.. pensei que seria mais fácil.
-Você acha que não é difícil pra mim também? empurrar com a barriga nunca foi do meu feitio e e nem do seu, e não pretendo começar agora.
*segura seu rosto com firmeza.
-Mas nunca fomos assim, sempre nos entediamos fácil das coisas, nossas almas sempre precisaram de algo a mais! em que ponto tudo isso descarrilou..? Aliás, por que durou tanto?
-Em que ponto..?
-Isso já não importa, né?
-Vamos manter pelo menos o respeito que conquistamos, o que sobrou da nossa inocência e paixão pela vida.
*segurando as lágrimas.
-É isso, então? Cada um volta para o seu casamento, sua mentira, seus trabalhos medíocres?
-E o quanto real é isso? o quanto?
-Isso simplesmente é, assim como toda a vida na terra, assim como as decisões que tomamos, assim como cada gota que cai do céu em dia de trovoada..
*já serena, olhando para o nada em sua frente.
-Apenas provações.. o amor transcende mesmo, não é?
-Gosto de acreditar que sim..
Cailo sai de mãos dadas com Miriana, e logo os trastes de água começam a descer. Dão um longo abraço e se olham durante minutos intermináveis.. dão alguns passos, se viram um ao outro como que conectados por vontade, e congelados em uma pose de admiração, são eternizados em um flash da natureza, se entregando á terra húmida e aos pequenos gestos de nós dois. Bem ali, onde os trastes nos fizeram parar.
domingo, 23 de janeiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
O vazio na chuva
A água ganha forma
O tempo grita sua natureza
Estronda no espaço
Ecoa no vazio
Entre as gotas
Claridade prismática
Entre o caos linear
A eternidade passageira
Que mata coisas belas
Que vivifica o cenário
Medo e admiração
Respeito por ser
Carrega consigo
De um novo ar
Penteia o vento
Umidece os pontos
Faz volume ás nossas lágrimas
Continuidade ao ciclo
Traz extinto interiores
Beleza a quem desfrutar
..e como veio.. vai..
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